sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

29 – Pobre Liza – N. Karamzim

Nikolay Karamzim (1766–1826) escritor e historiador russo publicou este conto ainda no século dezoito (cem anos antes da publicação de Quincas Borba por Machado de Assis) e é considerado um dos precursores do movimento romântico e da grande literatura russa. Nele, Liza vive um amor de Cinderela que, infelizmente, não termina bem. (Este conto abre a Nova Antologia do Conto Russo publicado pela Editora 34)
Pobre Liza
 Nikolai Karamzin

É provável que nenhum habitante de Moscou conheça tão bem quanto eu os arredores desta cidade, porque ninguém costuma ir ao campo mais que eu, ninguém vagueia mais que eu, sem plano, sem rumo — aonde os olhos levam —, por seus prados e bosques, por suas colinas e planícies. Todo verão encontro lugares novos e agradáveis, ou novas belezas nos antigos.
Mas o que mais me agrada é o lugar de onde se elevam as torres góticas e sombrias do mosteiro de Símonov. Do alto dessa colina, à direita, pode-se ver quase toda Moscou; uma quantidade espantosa de casas e igrejas que se apresenta aos olhos como um majestoso anfiteatro: um quadro magnífico, em especial quando iluminado pelo sol, quando seus raios vespertinos incidem sobre as inumeráveis cúpulas douradas e as inumeráveis cruzes que se elevam ao céu! Embaixo estendem-se prados férteis, exuberantemente verdes e floridos, e atrás deles, entre areias amarelas, corre um rio claro, que se agita com os remos leves dos barcos de pesca, ou borbulha sob o leme dos barcos de carga que vêm navegando desde os pontos mais férteis do império russo e suprem de cereais a ávida Moscou.
Do outro lado do rio se vê um bosque de carvalhos e numerosos rebanhos pastando ao longo dele; ali, à sombra das árvores, jovens pastores cantam canções simples e tristes, abreviando assim seus dias tão monótonos de verão. Adiante, em meio ao verde exuberante de olmos antigos, brilha o mosteiro Danílov, de cúpulas douradas; um pouco mais à frente, quase na linha do horizonte, divisam-se as azuladas Colinas dos Pardais. Já do lado esquerdo se vê um campo vasto, coberto de trigo, pequenos bosques, três ou quatro aldeiazinhas, e ao longe a aldeia de Kolómienskoie, com seu alto palácio.
Venho com frequência a este lugar, onde quase sempre comemoro a entrada da primavera; dirijo-me para cá também nos dias sombrios de outono, para lamentar junto com a natureza. O uivo dos ventos é assus­tador entre os muros do mosteiro deserto, entre os túmulos cobertos pela relva crescida e nas passagens escuras das celas. Ali, apoiando-me nas ruínas das lápides de pedra, ponho-me a escutar  o gemido surdo dos tempos devorados pelo abismo do passado — um gemido que faz palpi­tar e estremecer meu coração. Às vezes entro nessas celas e fico imaginan­do aqueles que nelas viveram — que triste quadro! Nesta vejo um ancião de cabelos grisalhos, ajoelhado diante de um crucifixo, rezando pela rápida libertação de seus grilhões na terra, já que não tinha mais nenhum prazer na vida e, com exceção da doença e da fraqueza, todos os seus sentimentos haviam morrido. Naquela um jovem monge, com o rosto pálido e olhar lânguido, contempla o campo através das grades da janela e vê os pássaros alegres, nadando livremente no mar do ar; fica olhando, e de seus olhos rolam lágrimas amargas. Ele enlanguesce, murcha e definha; e a badalada melancólica do sino anuncia-me sua morte prematura. De vez em quando ponho-me a observar nos portais do templo a representação dos milagres que ocorreram neste mosteiro: naquele os peixes caem do céu para saciar a fome dos habitantes do mosteiro, asse­diado por numerosos inimigos; neste a imagem da mãe de Deus põe em fuga os adversários. Tudo isso vem refrescar-me na memória a história de nossa pátria, a triste história dos tempos em que os lituanos e os tártaros rapaces devastaram, a ferro e fogo, os arredores da capital russa, mesmo quando a infeliz Moscou, como uma viúva indefesa, contava apenas com a ajuda de Deus em sua amarga desventura.
Mas o que mais me atrai aos muros do mosteiro de Símonov são as recordações do lamentável destino de Liza, da pobre Liza. Ah! Gosto das coisas que me tocam o coração e me fazem derramar lágrimas de doce pesar!
A umas setenta sájens dos muros do mosteiro, perto de um peque­no bosque de bétulas, em meio ao prado verde, há uma cabana desabitada, sem porta, sem janelas e sem chão; faz tempo que seu telhado apodreceu e desabou. Nessa cabana, há uns trinta anos ou mais, habitava a bela e doce Liza, com uma velhinha, sua mãe.
 O pai de Liza fora um camponês abastado, porque amava o trabalho, lavrava bem a terra e sempre levara uma vida sóbria. Mas logo após sua morte, a mulher e a filha empobreceram. A mão preguiçosa do lavra­dor contratado cultivara mal a roça e o trigo deixara de crescer. Foram obrigadas a arrendar suas terras por um valor ínfimo. E além do mais, a pobre viúva, que vivia derramando lágrimas por seu finado marido — já que as camponesas também sabem amar! —, foi ficando cada dia mais fraca, até não poder mais trabalhar. Apenas Liza, que aos quinze anos ficara sem pai — apenas Liza, sem poupar sua juventude nem sua beleza rara, trabalhava dia e noite: fiava o linho, tricotava meias, colhia flores na primavera e frutas silvestres no verão, e as vendia em Moscou. A velhinha, sensível e bondosa, vendo a infatigabilidade de sua filha, sempre a estreitava contra o coração, que batia fracamente, chamando-a de graça divina, arrimo de família, deleite de sua velhice, e pedia a Deus que a recompensasse por tudo o que fazia pela mãe.
“Deus me deu mãos para trabalhar — dizia Liza —; quando era criança, me alimentaste em teu seio e cuidaste de mim; agora chegou mi­nha vez de cuidar de ti. Só quero que pare de se arruinar, que pare de chorar; nossas lágrimas não trarão meu paizinho de volta.”
Mas muitas vezes a doce Liza não conseguia conter as próprias lá­grimas... ah! lembrava-se de que tivera um pai e de que ele já não existia, mas para tranquilizar a mãe procurava esconder a tristeza no coração e parecer serena e alegre. “No outro mundo, querida Liza — respondia a velhinha amargurada —, no outro mundo, deixarei de chorar. Dizem que lá todos serão felizes; estou certa de que serei feliz quando vir teu pai. Só não quero morrer agora — o que seria de ti sem mim? Com quem have­ria de deixar-te? Não, permita Deus que te deixe antes instalada em algum lugar! Pode ser que encontre logo um bom homem. Então, depois de vos abençoar, meus filhos queridos, hei de benzer-me e deitar-me em paz sob a terra úmida.”
Dois anos se passaram desde a morte do pai de Liza. Os prados co­briram-se de flores e Liza foi a Moscou com os lírios do vale. Um moço bem-vestido e de aparência agradável cruzou com ela na rua. Ela mostrou- -lhe as flores e corou. “Estão à venda, menina?” — perguntou ele com um sorriso. “Estão” — respondeu ela. “E quanto queres por elas?” — “Cinco copeques.” — “É barato demais. Aqui está um rublo.” Surpresa, Liza atreveu-se a olhar para o jovem — corou ainda mais e, baixando os olhos para o chão, disse-lhe que não aceitaria um rublo. “Para que isso? Não preciso que pague a mais.” — “Acho que esses lírios maravilhosos, colhidos pelas mãos de uma linda menina, valem um rublo. Mas já que não o aceitará, aqui estão os cinco copeques. Gostaria de comprar tuas flores sempre; gostaria que as colhesse apenas para mim.” Liza entregou as flores, pegou os cinco copeques, inclinou-se para ele e quis ir embora, mas o desconhecido a segurou pelo braço: “Para onde vais, menina?” – “Para casa.” — “E onde fica a tua casa?” Liza disse onde morava e partiu. O jovem não quis retê-la, talvez porque os transeuntes estives­sem começando a parar e a olhar para eles com um sorriso malicioso.
Ao chegar a sua casa, Liza contou para a mãe o que lhe havia su­cedido. “Fizeste bem em não aceitar um rublo. Talvez seja uma pessoa má...” — “Ah, não, mãezinha! Não acho que seja. Tinha uma expressão bondosa, uma voz tão...” — “No entanto, Liza, é preferível viver do próprio trabalho e não aceitar nada de graça. Ainda não sabe, minha querida, como uma pessoa má pode ofender uma pobre menina! Fico sempre com o coração na mão quando vais à cidade. Acendo sempre uma vela diante do ícone e peço ao senhor Deus que te proteja de todo mal e de uma desgraça.” E os olhos de Liza se encheram de lágrimas; ela beijou a mãe.
No dia seguinte, Liza colheu os mais belos lírios e voltou com eles à cidade. Seus olhos timidamente procuravam algo.
Muitas pessoas quiseram comprar-lhe as flores, mas ela respondia que não estavam à venda, olhando ora para um lado, ora para o outro. Começou a anoitecer, era preciso voltar para casa, e as flores foram ati­radas ao rio Moscou. “Que ninguém vos possua!” — disse Liza, sentindo certa tristeza no coração.
No dia seguinte, ao entardecer, estava sentada junto à janela, tecen­do e cantarolando baixinho uma canção melancólica, mas de repente levantou de um salto e gritou: “Ah!...”. O jovem desconhecido estava junto à janela.
“O que houve contigo?” — perguntou assustada a mãe, que estava sentada ao seu lado. “Nada, mãezinha — respondeu Liza, com uma voz tímida —, é que acabo de vê-lo.” — “A quem?” — “O senhor que com­prou minhas flores.” A velhinha espiou pela janela.
O jovem inclinou-se para ela com tanta cordialidade, com uma ex­pressão tão agradável, que ela só pôde pensar bem dele. — “Como vai, minha boa mulher?! — disse ele. — Estou muito cansado; não teria um pouco de leite fresco?” A prestativa Liza, sem esperar resposta de sua mãe – talvez porque já a conhecesse —, correu até o porão, trouxe uma bilha de barro limpa, coberta com uma tampa limpa de madeira, pegou um copo, lavou-o e enxugou-o com uma toalha branca, encheu-o de leite e o entregou pela janela, mas ela mesma olhava para o chão. O desconhe­cido o tomou — nem o néctar das mãos de Hebe poderia ter-lhe pareci­do mais saboroso. Qualquer um pode deduzir que depois disso ele agra­deceu a Liza, e a agradeceu tanto com palavras quanto com o olhar.
Entretanto, a bondosa velhinha teve tempo de lhe contar sobre sua pena e seu consolo — sobre a morte do marido e as qualidades especiais de sua filha querida, sobre sua ternura e seu amor ao trabalho, e assim por diante. Ele a escutava com atenção, mas seus olhos estavam... será preciso dizer onde? E Liza, a tímida Liza, lançava de vez em quando um olhar para o jovem rapaz, mas nem o fulgor de um raio desaparece nas nuvens com tanta rapidez quanto os olhos azuis dela se voltavam para o chão ao cruzar com o olhar dele. “Gostaria — disse ele à mãe — que tua filha não vendesse a ninguém, senão a mim, o seu trabalho. Assim, não terá por que ir com tanta frequência à cidade e não terás necessidade de se separar dela. Posso vir aqui de vez em quando pessoalmente.” Nesse momento, nos olhos de Liza brilhou uma alegria que ela tentou em vão esconder; as faces ficaram rubras como o pôr do sol numa noite clara de verão; ela olhava para a sua manga esquerda e a beliscava com a mão direita. A velhinha recebeu a proposta com gosto, sem suspeitar de qual­quer má intenção, e pôs-se a garantir ao rapaz que o tecido feito por Liza, as meias tricotadas por Liza, eram de excelente qualidade e mais duradouros que quaisquer outros.
Começou a anoitecer e o rapaz queria ir embora. “E como podemos chamá-lo, bom e gentil senhor?” — perguntou a velhinha. “Meu nome é Erast” — respondeu ele. “Erast — disse Liza baixinho —, Erast!” Repe­tiu esse nome umas cinco vezes, como se tentasse decorá-lo. Erast despediu-se delas e se foi. Liza o seguiu com o olhar; mas a mãe sentou-se pensativa e, segurando na mão da filha, disse-lhe: “Ah Liza! Como ele é bom e gentil! Se teu noivo for assim!”. O coração de Liza estremeceu todo. “Mãezinha! Mãezinha! Como isso seria possível? Ele é um senhor, e entre camponeses...” — Liza não terminou a frase.
Agora o leitor deve saber que aquele jovem, Erast, era um senhor muito rico, ajuizado e de bom coração, bom por natureza, mas fraco e leviano. Levava uma vida desregrada, pensava apenas no próprio prazer, procurava-o nas diversões mundanas, mas quase nunca encontrava: fica­va então entediado e reclamava de seu destino. Ao primeiro encontro, a beleza de Liza causou-lhe no íntimo uma forte impressão. Ele lia roman­ces, poemas idílicos, possuía uma imaginação muito viva e, muitas vezes, transportava-se em pensamentos para aqueles tempos (passados ou ima­ginários) em que, se acreditarmos nos poetas, todos passeavam despreocupadamente pelos prados, banhavam-se em fontes límpidas, beijavam-se como pombinhos, descansavam sob mirtos e roseirais e passavam todos os dias numa feliz ociosidade. Pareceu-lhe ter encontrado em Liza algo que seu coração havia muito procurava. “A natureza convida-me ao seu abraço, à sua alegria mais pura” — pensou ele, e decidiu, pelo menos por um tempo, deixar a vida mundana.
Voltemos a Liza. A noite caía, a mãe abençoou a filha e desejou-lhe bons sonhos, mas dessa vez seu desejo não se cumpriu; Liza dormiu mui­to mal. O novo hóspede de sua alma, a imagem de Erast, surgia-lhe tão vivamente, que ela acordava quase a todo instante, acordava e suspirava. Liza levantou-se ainda antes do nascer do sol, foi até a beira do rio Mos­cou, sentou-se na grama, cheia de tristeza, e pôs-se a olhar para a névoa branca que se agitava no ar e, ao subir para o alto, deixava gotas brilhan­tes sobre o manto verde da natureza. O silêncio reinava por toda parte. Mas logo despontou a luz do dia, despertando a criação inteira: os bos­ques e os arbustos reviveram, os pássaros alçaram voo, pondo-se a cantar, e as flores soergueram a cabecinha para matar a sede com os raios vivificantes de luz. Mas Liza continuava compungida. Ah, Liza, Liza! O que aconteceu contigo? Até hoje, ao despertar com os pássaros, te divertias com eles pela manhã, e tua alma pura e alegre brilhava em teus olhos, como o sol brilha nas gotas de orvalho celeste, mas agora estás perdida em pensamentos, e a alegria plena da natureza está alheia ao teu coração. Enquanto isso, um jovem pastor conduzia seu rebanho ao longo do rio, tocando sua flauta. Liza ficou olhando para ele e pensou: “Se aquele que agora ocupa meu pensamento tivesse nascido um simples camponês, um pastor, e passasse agora diante de mim conduzindo o seu rebanho, ah! eu o saudaria com um sorriso e diria amavelmente ‘Bom dia, meu gentil pastor! Para onde levas o teu rebanho? Aqui também cresce a grama verde para as tuas ovelhas, aqui também há flores escarlate, com as quais se pode tecer uma guirlanda para o teu chapéu’. Ele me fitaria com cari­nho, e talvez segurasse minha mão. Que sonho!”. O pastor passou dis­traído com seu rebanho de cores variadas, tocando flauta, e desapareceu atrás da colina.
De repente Liza escutou um ruído alegre, olhou para o rio e avistou um barco, e no barco estava Erast.
Seu coração pôs-se a bater mais rápido, e não era de medo, claro. Ela se levantou e quis ir-se, mas não pôde. Erast pulou para a margem, aproximou-se de Liza, e seu sonho em parte se cumpria, já que ele a fitou com carinho e segurou-lhe a mão... Mas Liza, Liza tinha o olhar baixado, as faces em chamas e o coração palpitante; não conseguiu soltar-se de suas mãos, nem conseguiu virar-se quando ele aproximou dela seus lábios rosados... Ah! Ele a beijou, beijou com tanto ardor, que o universo intei­ro pareceu-lhe arder em chamas! “Querida Liza! — disse Erast. — Querida Liza! Eu te amo!” E aquelas palavras ressoaram lhe nas profundezas da alma como uma música encantadora, celestial; ela mal ousava crer no que ouvia e...
Mas deixo a pena de lado. Direi apenas que, nesse momento de êx­tase, a timidez de Liza desaparecera, e Erast soube que era amado, apai­xonadamente amado, por um coração novo, puro e franco.
Sentaram-se na grama, e de forma tal que não sobrava muito espaço entre eles — fitavam-se nos olhos e diziam um ao outro: “Ama-me!” — e duas horas lhes pareceram um átimo. Afinal Liza lembrou-se de que sua mãe poderia estar preocupada com ela. Era preciso que se separassem: “Ah, Erast! — disse ela. — Haverás de me amar sempre?” — “Sempre, querida Liza, sempre!” — respondeu ele. “E podes jurar-me?” — “Pos­so, encantadora Liza, posso!” — “Não! Não preciso de juras. Acredito em ti, Erast, acredito. Como poderias enganar a pobre Liza? Isso seria impossível!” — “Impossível, impossível, querida Liza!” — “Como es­tou feliz, e como minha mãezinha ficará contente quando souber que me amas!” — “Oh, não, Liza! Não há necessidade de dizer-lhe nada.” — “E por quê?” — “Os velhos são muitas vezes desconfiados. Ela poderia ima­ginar algo de ruim.” — “Isso nunca aconteceria.” — “No entanto, eu te peço, não lhe diga uma palavra sobre isso.” — “Está bem: devo obede­cer-te, embora preferisse não ocultar nada a ela.”
Eles se despediram, beijaram-se pela última vez e prometeram en­contrar-se todos os dias ao entardecer ou na margem do rio, ou no bosque de bétulas, ou em algum lugar próximo da cabana de Liza, contanto que se vissem sem falta. Liza foi embora, mas seus olhos voltaram-se uma centena de vezes para trás, para Erast, que continuava de pé, na beira do rio, seguindo-a com o olhar.
Liza voltou para sua cabana numa disposição completamente dife­rente daquela em que a deixara. A alegria de seu coração estampava-se em seu rosto e em todos os seus movimentos. “Ele me ama!” — pensava, e ficava encantada com esse pensamento. — “Ah, mãezinha! — disse Liza a sua mãe, que acabara de acordar. — Ah, mãezinha! Que bela ma­nhã! Está tudo tão alegre no campo! As cotovias nunca cantaram tão bem, o brilho do sol nunca foi tão luminoso, as flores nunca exalaram perfume mais agradável!”
A velhinha, apoiando-se numa bengala, saiu para o prado, para aproveitar a manhã que Liza descrevera com cores tão encantadoras. De fato, ela lhe pareceu excepcionalmente agradável. Para ela, sua encanta­dora filha havia inspirado toda a natureza com sua alegria. “Ah, Liza! – disse ela. — Como é bom tudo o que vem do Senhor, nosso Deus! Há sessenta anos que vivo neste mundo e não me canso de admirar a criação do Senhor: não me canso de admirar o céu claro, que parece um imenso manto, e a terra, que a cada ano é coberta com nova grama e novas flores. O tzar celestial devia amar muito o homem, quando criou tão bem este mundo para ele. Ah, Liza! Quem haveria de querer morrer, se não hou­vesse às vezes a dor?... Por certo, assim deve ser. Se nossos olhos nunca derramassem lágrimas, talvez nos esquecêssemos de nossa própria alma.” E Liza pensava: “Ah! Prefiro esquecer minha alma a esquecer o meu amigo querido!”.
Depois disso, Erast e Liza, temendo quebrar sua palavra, encontra­vam-se todas as noites (assim que a mãe de Liza se deitava para dormir), nas margens do rio ou no bosque de bétulas, mas, com mais frequência, à sombra dos carvalhos centenários (que cresciam a umas oitenta sájens da cabana), carvalhos que sombreavam o lago profundo e límpido, esca­vado ainda em tempos remotos. Lá, muitas vezes, por entre ramos verdes, a lua silenciosa prateava com seus raios os cabelos claros de Liza, com os quais brincavam os zéfiros e a mão de seu querido amigo. Muitas ve­zes, esses raios iluminavam nos olhos da doce Liza uma lágrima brilhan­te de amor, que Erast sempre secava com um beijo. Eles se abraçavam, mas a tímida e casta Cíntia não se escondia deles nas nuvens: seus abra­ços eram puros e imaculados. “Quando — dizia Liza para Erast — quan­do me dizes: ‘Meu amor, minha amiga’. Quando me estreitas contra o teu coração e me fitas com teus olhos ternos, ah! nessa hora me sinto tão bem, mas tão bem, que me esqueço de mim mesma, esqueço-me de tudo, exceto de Erast. É maravilhoso! É maravilhoso, meu amigo, que tenha podido viver tranquila e feliz sem conhecer-te! Agora, não consigo enten­der isso, agora acho que a vida sem ti não é vida, mas tristeza e tédio. Sem teus olhos, a lua clara fica escura; sem tua voz, o canto do rouxinol é entediante; sem tua respiração, a brisa parece desagradável.” Erast es­tava encantado com sua pastora — era como chamava Liza —, e, ao ver como ela o amava, ele parecia mais agradável a seus próprios olhos. Até as diversões mais suntuosas da alta sociedade lhe pareciam insignificantes em comparação com estes prazeres com que a “amizade apaixonada” de uma alma pura nutria seu coração. Pensava com repulsa na volúpia lúci­da com que antes se inebriavam os seus sentimentos. “Viverei com Liza como irmão e irmã — pensava ele —, nunca me aproveitarei de seu amor e serei sempre feliz!” Jovem insensato! Conheces teu próprio coração? Poderás sempre responder por teus atos? Será a razão sempre dona dos teus sentimentos?
Liza exigia que Erast fosse visitar sua mãe com frequência. “Eu a amo — dizia ela —, e desejo-lhe o melhor, e parece-me que ver-te é uma grande bênção para qualquer pessoa.” A velhinha de fato sempre ficava feliz ao vê-lo. Ela gostava de conversar com ele sobre seu falecido marido e contar sobre seus tempos de juventude, como se encontrara com seu amado Ivan pela primeira vez, como ele se apaixonou, e com que amor e harmonia viveu com ela. “Ah! nunca cansávamos de fitar um ao outro, até o derradeiro instante em que a morte cruel enfraqueceu-lhe as pernas. Morreu em meus braços!” Erast ouvia com sincero prazer. Ele comprava dela o trabalho de Liza e sempre queria pagar dez vezes mais que o preço estabelecido, mas a velhinha nunca aceitava.
Várias semanas transcorreram dessa maneira. Certa vez, ao anoitecer, Erast esperou muito tempo por sua Liza. Finalmente ela chegou, mas estava tão triste que o assustou; tinha os olhos avermelhados de lágrimas. “Liza, Liza! O que aconteceu contigo?” — “Oh, Erast! Estava chorando!” — “Por quê? O que houve?” — “Devo dizer-te tudo. Encontraram-me um noivo, o filho de um rico camponês da aldeia vizinha; minha mãezinha quer que me case com ele.” — “E estás de acordo?” — “Como é cruel! Como podes perguntar-me isso? Só tenho pena de minha mãezinha; ela chora e diz que não desejo vê-la tranquila, que sofrerá muito antes de sua morte, se não me vir casada. Ah! Minha mãezinha não sabe que tenho um amigo tão querido!” Erast beijava Liza e dizia-lhe que a felicidade dela lhe era mais cara do que tudo no mundo, que após a morte de sua mãe a levaria consigo e viveria com ela, inseparavelmente, na aldeia e nos bosques espessos, como no Paraíso. “No entanto, não podes ser meu marido!”— disse Liza, suspirando baixinho. — “E por quê?”“Sou uma camponesa.” — “Estás me ofendendo. Para o teu amigo, o mais importante de tudo é a alma, uma alma sensível e inocente — e Liza estará sempre muito perto do meu coração.”
Ela atirou-se em seus braços — e essa hora haveria de ser fatal para a sua pureza! Erast sentiu no sangue uma agitação extraordinária, Liza nunca lhe parecera tão encantadora, suas carícias nunca o tocaram tão fortemente, seus beijos nunca haviam sido tão ardentes — ela não sabia de nada, não suspeitava de nada e nada temia — a penumbra da noite nutriu o desejo — nenhuma estrelinha brilhou no céu, nenhum raio de luz conseguiu iluminar o desatino. Erast sentia-se tremer, Liza também, sem saber por quê, sem saber o que estava acontecendo com ela... Ah! Liza, Liza! Onde está o teu anjo da guarda? Onde está a tua inocência?
O desatino durou apenas um instante. Liza não entendia os próprios sentimentos, estava surpresa e fazia perguntas. Erast ficou em silêncio, buscava palavras, mas não as encontrava. “Ah, estou com medo — disse Liza —, tenho medo do que aconteceu conosco. Sinto como se fosse morrer, como se minha alma... Não, não sei dizer isso!... Não dizes nada, Erast? Estás suspirando?... meu Deus! O que é isso?” Nisso, brilhou um raio e ribombou um trovão. Liza estremeceu toda. “Erast, Erast! — disse ela. — Estou com medo! Temo que o trovão me mate, como a uma criminosa!” A tempestade fazia um barulho ameaçador, a chuva despejava das nuvens negras, era como se a natureza lamentasse a inocência perdida de Liza. Erast tentava acalmá-la e a acompanhou até a cabana. Lágrimas rolavam de seus olhos, quando se despediu dele. “Ah, Erast! Assegura-me de que seremos felizes como antes!” — “Seremos, Liza, seremos!” — respondeu ele. — “Queira Deus! Não posso deixar de acreditar em tuas palavras: pois eu te amo! É que em meu coração... Mas basta! Perdoa-me! Amanhã, amanhã nos veremos.”

Os encontros deles continuaram; mas como tudo mudara! Erast já não podia satisfazer-se apenas com as carícias inocentes de sua Liza, apenas com seus olhares cheios de amor, apenas com o toque da mão e os beijos e abraços puros. Ele desejava cada vez mais, até não conseguir desejar nada — e quem conhece o próprio coração e refletiu sobre a na­tureza de seus prazeres mais ternos, certamente há de concordar comigo que a realização de todos os desejos é a mais perigosa tentação do amor. Liza já não era para Erast aquele anjo de pureza que antes despertara a sua imaginação e encantara sua alma. O amor platônico havia cedido lugar a sentimentos dos quais ele não podia se orgulhar e que já não lhe eram novos. No que se refere a Liza, ao se entregar completamente a ele, vivia e respirava apenas por ele; como um cordeiro, submetia-se em tudo à sua vontade e só encontrava felicidade no prazer dele. Ela percebia nele uma mudança e muitas vezes lhe dizia: “Antes eras mais alegre, antes éramos mais calmos e felizes, e antes eu não temia perder o teu amor!”. Às vezes, ao se despedir dela, ele lhe dizia: “Amanhã, Liza, não poderei vir ao teu encontro: surgiu um assunto importante”. E Liza suspirava todas as vezes que ouvia estas palavras.
Por fim, ela ficou sem vê-lo por cinco dias seguidos e estava muito preocupada; no sexto dia ele chegou com uma expressão abatida e lhe disse: “Querida Liza! Devo despedir-me de ti por algum tempo. Sabes que estamos em guerra e que estou a serviço, meu regimento está partindo em campanha”. Liza empalideceu e quase desmaiou.
Erast a acariciou, disse que sempre amaria sua querida Liza e que em seu regresso esperava nunca mais separar-se dela. Liza ficou em silêncio por um longo tempo, depois irrompeu em lágrimas amargas, agarrou-lhe o braço e, fitando-o com toda a ternura do amor, perguntou: “Não podes ficar?” — “Posso — respondeu ele —, só que a custo de uma grande desonra, de uma grande mancha em minha honra. Todo mundo haverá de me desprezar e desviar-se de mim, como de um covarde, de um filho indigno da pátria.” — “Ah, se é assim — disse Liza —, então vá, vá para onde Deus ordenar! Mas poderão te matar.” — “Morrer pela pátria não é tão assustador, amada Liza.” — “Morrerei, assim que deixares este mundo.” — “Mas, para que pensar assim? Espero continuar vivo, espero voltar para ti, minha amiga.” — “Queira Deus, Queira Deus! Hei de rezar todos os dias e a toda hora para que assim seja. Ah, por que não sei ler, nem escrever? Poderias informar-me de tudo o que acontecesse contigo e eu escreveria para ti — sobre minhas lágrimas!” — “Não, cuida-te Liza, cuida-te para o teu amigo. Não quero que chores na minha ausência.” — “Homem cruel! Pensas privar-me desse consolo! Não! Depois que nos separarmos, só cessarei de chorar quando tiver o coração seco.” — “Pensa no momento agradável em que tornaremos a nos encontrar.” — “Pensarei, pensarei nele! Ah, se pelo menos ele chegasse logo! Querido e gentil Erast! Lembra, lembra da tua pobre Liza, que te ama mais que a si mesma!”
Mas não sou capaz de descrever tudo o que disseram nessa ocasião. No dia seguinte teria lugar o último encontro deles.
Erast quis se despedir da mãe de Liza, que não pôde conter as lágri­mas ao ouvir que seu gentil e belo cavalheiro tinha de ir para a guerra. Ele insistiu que ela aceitasse algum dinheiro seu, dizendo-lhe: “Não que­ro que, na minha ausência, Liza venda o seu trabalho, que por nosso acordo me pertence”. A velhinha o cobriu de bênçãos.
“Queira Deus — disse ela — que regresses são e salvo para nós e que possa ver-te mais uma vez nesta vida! Pode ser que nesse tempo minha Liza encontre para si o noivo conveniente. Como agradeceria a Deus se pudesse voltar para o nosso casamento. Quando Liza tiver filhos, saiba, senhor, que deverás batizá-los. Ah! Como quero viver até lá!” Liza se pôs ao lado da mãe e não ousou olhar para ela. O leitor há de imaginar fa­cilmente o que ela sentia naquele instante.
Mas o que não sentiu ela no momento em que, ao abraçá-la pela última vez, ao estreitá-la contra o seu coração pela última vez, Erast lhe disse: “Adeus, Liza!”. Que quadro tocante! O crepúsculo matutino se derramava como um mar escarlate pelo céu do oriente. Erast, sob os ra­mos de um carvalho alto, abraçava sua pobre amiga, lânguida e amargu­rada, que, ao despedir-se dele, despedia-se de sua alma. E toda a nature­za permanecia em silêncio.
Liza soluçava, Erast chorava; ele a deixou, ela caiu, pôs-se de joelhos, ergueu as mãos para o céu e ficou olhando Erast, que se afastava cada vez mais, até finalmente desaparecer — o sol começou a brilhar, e a pobre Liza, abandonada, perdeu os sentidos e a consciência.
Quando voltou a si, também o mundo lhe pareceu triste e melancó­lico. Todos os prazeres da natureza haviam desaparecido para ela junto com o amado de seu coração. “Ah! — pensava ela. — Por que permane­ci nesse deserto? O que me impede de voar atrás de meu querido Erast? A guerra não me assusta; o que me assusta é estar onde não está o meu amigo. Quero viver com ele e morrer com ele, ou salvar sua preciosa vi­da com a minha própria morte. Espera, espera, meu amado! Estou voan­do para junto de ti.” Ela já ia correr atrás de Erast, mas um pensamento a deteve: “Tenho uma mãe!”. Liza suspirou, baixou a cabeça e foi a passos lentos para sua cabana. Desde esse instante, seus dias foram dias de tristeza e dor, que tinha de esconder de sua querida mãe, com o que sofria ainda mais seu coração! Ele só encontrava alívio quando Liza, ao isolar-se no denso bosque, podia derramar lágrimas livremente e gemer pela ausência de seu amado. Muitas vezes uma rolinha triste vinha jun­tar sua voz queixosa ao lamento dela. Mas às vezes — embora muito raramente — um raio dourado de esperança, um raio de consolo, iluminava a escuridão de sua dor. “Quando ele voltar para mim, como serei feliz! Como tudo haverá de mudar!” A este pensamento, seus olhos se iluminavam, as faces ficavam rosadas, e Liza sorria como uma manhã de maio depois de uma noite de tempestade. E assim se passaram cerca de dois meses.
Certo dia Liza teve de ir a Moscou, a fim de comprar água de rosas para sua mãe tratar dos olhos. Numa das grandes ruas ela se deparou com uma carruagem magnífica e na carruagem viu Erast. “Ah!” — Liza pôs-se a gritar e lançou-se em sua direção, mas a carruagem seguiu adian­te e virou em um pátio. Erast desceu e já estava se dirigindo para a entra­da de uma casa imensa, quando de repente se sentiu abraçado por Liza. Ele empalideceu — depois, sem responder uma palavra às suas exclamações, pegou-a pelo braço, levou-a ao seu gabinete, trancou a porta e lhe disse: “Liza! as circunstâncias são outras; agora estou casado. Deves deixar-me em paz e, para o teu próprio bem, esquecer-me. Eu te amei e ainda te amo, isto é, desejo a ti tudo de bom. Aqui estão cem rublos, pe­ga-os — ele colocou o dinheiro em seu bolso —, deixa-me beijar-te pela última vez e vai para casa”.
Antes que Liza pudesse voltar a si, ele a levou para fora do gabinete e disse ao criado: “Acompanha esta moça até o pátio”.
Neste momento estou com o coração sangrando. Esqueço-me do homem em Erast; estou pronto a amaldiçoá-lo, mas meus lábios não se movem — olho para o céu, e uma lágrima rola em meu rosto. Ah! Por que não escrevo um romance, ao invés de um triste fato passado?
Quer dizer então que Erast enganara Liza, ao lhe dizer que ia para o exército? Não, ele de fato foi para o exército, mas, ao invés de comba­ter o inimigo, jogava cartas e perdeu quase todas as suas posses. Logo a paz foi declarada e Erast retornou a Moscou cheio de dívidas. Restava-lhe apenas uma possibilidade de reparar as circunstâncias: casar-se com uma viúva rica, já entrada em anos, que havia muito estava apaixonada por ele. Ele se decidiu por isto e foi viver na casa dela, dedicando sinceros suspiros a sua Liza. Mas isso tudo é suficiente para justificá-lo?
Liza se viu na rua, e em tal situação, que nenhuma pena é capaz de descrever. “Ele, ele me expulsou? Ele ama outra? Estou perdida!” Estes eram seus pensamentos, seus sentimentos! Um desmaio cruel os inter­rompeu por um momento. Uma mulher bondosa que passava pela rua deteve-se sobre Liza, que estava deitada no chão, e tentou reanimá-la. A infeliz abriu os olhos, levantou-se com o auxílio dessa boa mulher, agra­deceu e pôs-se a andar, sem saber para onde ir. “Não posso continuar vivendo — pensou Liza. — Não posso!... Ah, se o céu caísse sobre mim! Se a terra tragasse essa pobre criatura!... Não! O céu não está caindo; a terra não está tremendo! Ai de mim!” Ela caminhou para fora da cidade e de repente se viu à beira do lago profundo, à sombra dos carvalhos antigos que algumas semanas antes haviam sido testemunhas silenciosas de seu êxtase. Essas recordações abalaram-lhe a alma, seu rosto estam­pava o terrível tormento de seu coração. Mas pouco depois mergulhou num devaneio, olhou a sua volta e viu a filha de um vizinho (uma meni­na de quinze anos), que vinha pela estrada; chamou-a, retirou do bolso dez imperiais e, entregando-os a ela, disse: “Querida Aniuta, minha querida amiga! Leva esse dinheiro para minha mãe — não foi roubado —, diz-lhe que Liza sente-se culpada diante dela, que ocultei dela o meu amor por um homem cruel, por E... Para que saber o nome dele? — Dize que ele me traiu e pede-lhe que me perdoe. — Deus haverá de assisti-la. Beija-lhe a mão assim como agora beijo a tua, dize que a pobre Liza lhe pediu para beijá-la, dize que eu...”. Nesse instante Liza atirou-se na água. Aniuta pôs-se a gritar e a chorar, mas não conseguiu salvá-la, e correu para a aldeia — as pessoas se reuniram e retiraram Liza, mas ela já estava morta.
E assim terminou sua vida, bela de corpo e alma. Quando nos en­contrarmos na outra vida, hei de te reconhecer, doce Liza!
Ela foi enterrada perto do lago, sob um carvalho sombrio, e sobre seu túmulo foi colocada uma cruz de madeira. Muitas vezes me sento aqui, perdido em pensamentos, apoiando-me no lugar onde jazem os res­tos mortais de Liza; o lago corre diante de meus olhos, e as folhas farfalham sobre minha cabeça.
A mãe de Liza ouviu falar da terrível morte da filha e seu sangue gelou de horror — os olhos fecharam-se para sempre. A cabana ficou vazia. O vento uiva lá dentro, e os camponeses, supersticiosos, ao ouvir seu ruído durante a noite, dizem: “Há um morto lá gemendo, a pobre Liza está gemendo!”.
Erast foi infeliz até o fim de sua vida. Ao saber do destino de Liza, não pôde encontrar consolo e considerava-se um assassino. Eu o conheci um ano antes de sua morte. Ele mesmo contou-me esta história e levou-me até o túmulo de Liza. Agora é possível que já tenham se reconciliado!
1792
Tradução de Natalia Marcelli de Carvalho e Fátima Bianchi


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