“O homem da
flor na boca” escrito por Luigi
Pirandelo (1867-1936), escritor e dramaturgo italiano nascido na Sicília tem forma
de uma cena de teatro mas é na verdade um pequeno conto que permite ao leitor
apreciar o estilo deste grande autor, vencedor do premio Nobel de literatura em
1934. Com Pirandello o que começa com uma simples conversa perdida na noite pode
terminar ...
O Homem da Flor na Boca
(L ́uomo
del Fiori in Boca)
Luigi Pirandello
Tradução: Eduardo Muniz
& Alvaro Pilares
PERSONAGENS: O pacifico freguês e o homem da flor na boca
ATO ÚNICO
CENA – Noite de verão. Uma pequena rua solitária
que acaba numa avenida. Ao fundo, entre os galhos das arvores, aparecem os
candeeiros elétricos acesos. No prédio de esquina da pequena rua, à esquerda,
um pobre café noturno, com mesinhas e cadeiras de passeio fracamente iluminadas
pelo candeeiro aceso, à beira do mesmo passeio. Diante da casa da direita uma
lâmpada acesa. No ângulo da ultima casa da esquerda que faz esquina com a
avenida outro candeeiro aceso.
Quase no fim do dialogo, na altura indicada no texto, aparecerá por
duas vezes um vulto de mulher, vestida de preto, com um velho chapéu enfeitado
com penas já sem frescura.
É um pouco mais de meia noite. Em alguns intervalos da peça ouvir-se-á
um som distante tilintante de um bandolim. Quando o pano sobe, aparece o Homem
da Flor na Boca sentado numa das mesas, observando demoradamente e em silencio
um Pacifico Freguês que na mesa ao lado chupa com um canudo um refrigerante.
O HOMEM: Pelo que vejo, o senhor, um homem
pacifico e metódico... perdeu o trem?
O FREGUÊS: Por um minuto, sabe?
Chego na estação e lá o vejo, fugindo diante de mim.
O HOMEM: Podia ter corrido atrás dele!
O FREGUÊS: Podia! É engraçado, eu
sei! Se eu não tivesse que carregar todos aqueles embrulhos e embrulhinhos...
Mais carregado que um burro! Mas as mulheres... sabe como é – pedindo sempre
encomendas e não param. Você acredita que quando desci do carro, eu levei três
minutos só para arrumar nos dedos os barbantes de todos os pacotes: dois em
cada dedo.
O HOMEM: Gostaria de ter visto isso. Sabe o que
eu faria no seu lugar? Teria deixado tudo no carro.
O FREGUÊS: E minha mulher? E as
minhas filhas? E todas as amigas delas?
O HOMEM: Iam gritar muito, e eu ia me divertir
com isso.
O FREGUÊS: Talvez o senhor não saiba
como se tornam as mulheres quando estão de férias.
O HOMEM: Ora! Sei, e muito bem! Digo isso justamente
por saber. Todas dizem que não precisam de nada.
O FREGUÊS: Nada? Elas são até
capazes de dizer que vão viajar pra fora só com a intenção de economizar.
Depois assim que chegam em alguma cidadezinha aqui por perto, quanto mais feia,
suja e miserável for, mais elas insistem em enfeitá-la caprichando nos figurinos
acessórios. Ora, as mulheres, meu caro senhor! Mas a final, é a profissão
delas!...”Se você desse um pulo até a cidade, meu amor!... Eu estava
precisando realmente disso... disso... daquilo... e também você podia... se não
se incomoda (engraçado esse: ”se não se incomoda”, não acha?)... Já que você
vai pra lá, quando passar em frente...”- Mas, minha querida, como é que você
quer que eu faça tudo isso em apenas em três horas? – “Ora, o que é que tem? Você
pega um táxi...” – O pior é que eu achava que só ia demorar três horas e não
trouxe a chave de casa.
O HOMEM: Essa é muito boa! E depois?
O FREGUÊS: Ora, depois eu deixei
aquele montão de encomendas e fui jantar num restaurante; depois, eu fui ao
teatro pra dar uma espairecida. Lá estava muito quente. Na saída me perguntei:
E agora, vou fazer o que? Já passa da meia noite e às quatro da manhã eu tenho
que pegar o primeiro trem, então nem vale a pena ir deitar. E vim até aqui. Este
café não fecha, né?
O HOMEM: Não fecha, não senhor! (PAUSA) E, então, deixou todos os seus pacotes na estação?
O FREGUÊS: Porque me pergunta isso?
Por acaso não estão seguros lá? Estavam todos tão bem embrulhados e...
O HOMEM: Não, não digo isso! Muito bem embrulhados,
calculo: Com aquela arte especial dos vendedores, de embrulhar os objetos que
vendem... (PAUSA) Que mãos! Uma bela folha de papel dobrada,
vermelha, polida... que só de olha-la já é um prazer...Tão lisa, que até dá
vontade de encostá-la no rosto para sentir o seu toque delicado... Estendem a
folha sobre o balcão, e depois, com elegância e desembaraço, colocam em cima,
precisamente no meio, o tecido fino, bem dobrado. Levantam primeiro de baixo,
com o dorso da mão, uma ponta da folha de papel; dorso da mão, uma ponta de
papel: até lhe fazem uma pequena prega, supérflua, só por amor à arte. Então,
dobram de um lado e do outro, em triângulo, a folha de papel, e viram por baixo
as duas pontas; estendem uma das mãos para o rolo de fita; puxam o necessário
para atar o embrulho. E atam tão rapidamente que nem temos tempo de admirar a
habilidade do empregado, e já nos apresentam o embrulho feito, com o nó pronto
pra levarmos pendurado nos dedos.
O FREGUÊS: Percebo que o senhor
dedicou muita atenção aos empregados das lojas...
O HOMEM: Eu? Meu caro amigo, eu passo dias
inteiros observando-os! Sou capaz de ficar mais de uma hora, parado, olhando
pra dentro das lojas através das vitrines. Chego a esquecer de mim. Parece que
sou, e realmente gostaria de ser, aquele tecido de seda... aquele cetim... a
fita vermelha, ou azul, que as vendedoras das lojas, depois de a medirem com o
metro... já viu como fazem? Enrolam no polegar em forma de oito, antes de
embrulhar. (PAUSA) Observo o cliente ou a cliente que sai da loja
com o embrulho na mão, ou numa sacola, ou debaixo do braço... Sigo- os com os
olhos, até sumirem da minha vista... fico imaginando... - Ah, quantas coisas
imagino!, o senhor não faz ideia! (PAUSA, DEPOIS PARA SI) Mas me ajuda, isso me
ajuda.
O FREGUÊS: (PAUSA) Desculpe... o que é que lhe ajuda?
O HOMEM: Me agarrar assim – quero dizer, com a imaginação
– à vida. Como uma planta trepadeira nas grades de um portão... (PAUSA) Ah, nunca deixar a imaginação descansar, nem um
instante sequer: - Aderir, aderir com ela, continuamente, à vida dos outros...
– mas não à vida de gente que conheço! Não! Não! A essa
não! Eu sinto por ela... uma repugnância, se o senhor soubesse! Um nojo! Aderir
à vida dos estranhos, em volta dos quais a minha imaginação pode trabalhar
livremente; mas isso não é um capricho meu, muito pelo contrario, levando em
consideração as menores peculiaridades descobertas neste ou naquele estranho. E
se soubesse quanto e como ela trabalha! Dependendo até onde consigo
aprofundar, vejo até mesmo a casa deste ou daquele indivíduo; vivo lá dentro;
me sinto dentro dela, até sinto o cheiro... sabe? Aquela espécie de cheiro
particular de cada casa! Da sua, da minha... – mas na nossa, nos já não sentimos mais, porque já é o
cheiro da nossa própria vida...Não sei se eu tô sendo claro. Ah, pelo visto sim
e...
O FREGUÊS: Sim, porque...quero
dizer: deve ser realmente muito prazeroso para o senhor imaginar todas essas
coisas...
O HOMEM: (COM EVIDENTE FADIGA
DEPOIS DE PENSAR UM INSTANTE)- Prazeroso? Pra mim?
O FREGUÊS: Quer dizer... calculo...
O HOMEM: Me diz uma coisa. Já foi consultar
algum médico de renome?
O FREGUÊS: Eu não! Por que? Não
estou doente!
O HOMEM: Não se assuste! Só tô perguntando para
saber se já viu, no consultório desses grandes médicos, a sala onde os clientes
esperam a sua vez de serem atendidos.
O FREGUÊS: Já vi, sim. Tive de
acompanhar uma vez uma das minhas filhas, que sofria dos nervos, e...
O HOMEM: Muito bem. Não me interessa saber. Só
me interessam aquelas salas... (PAUSA) Já reparou nelas? Um sofá
de tom escuro, desses antigos... as cadeiras estofadas, muitas vezes desiguais...
Tudo comprado de ocasião, de segunda mão, colocadas ali para os clientes; não
pertencem ao lugar. Já o médico tem na sua casa rica e bela, uma outra sala,
para ele e para as amigas da esposa. Imagine como destoaria uma das suas
cadeiras ou poltronas se fosse trazida para cá, para o lugar reservado aos
clientes, a quem basta esses moveis sem pretensões, decentes, sóbrios. Queria
saber se o senhor, quando foi com a sua filha, reparou bem na poltrona ou na cadeira
onde se sentou enquanto esperava.
O FREGUÊS: Eu não, com
francamente...
O HOMEM: É verdade: o senhor não estava
doente... (PAUSA). Mas nem todos os doentes reparam naquilo,
mergulhados como estão no pensamento da sua própria doença... (PAUSA) E, no entanto, quantas vezes alguns deles estão ali,
atentos, observando os movimentos ansiosos dos dedos que fazem sinais inúteis,
no braço puído daquela cadeira em que estão sentados!...Pensam e não veem. Mas
que efeito faz. Quando saímos da consulta, e voltamos a atravessar a sala,
vendo de novo a cadeira onde há pouco estávamos sentados, à espera da sentença
do nosso mal ainda ignorado! Ocupada por outro paciente, também ele com a sua doença
secreta; ou ali, vazia, impassível, à espera de um outro qualquer que vai
ocupá-la... (PAUSA) Mas o que estávamos falando?... Ah, sim, é
verdade... O prazer da imaginação. – Não sei bem porque me lembrei logo de uma
das cadeiras dessas salas dos médicos, onde os pacientes estão à espera da
consulta...
O FREGUÊS: Sim... realmente...
O HOMEM… Não vê a relação? Nem eu. Mas é que
certos laços ligando imagens entre si longínquas, são tão particulares a cada
um de nós, e determinados por causas e experiências tão singulares, que deixaríamos
de nos compreender se, ao falarmos, não nos inibíssemos de utilizá-los. Nada
mais lógico, por vezes, do que estas analogias. Mas a relação pode talvez ser
esta, repare: – “Teriam prazer, aquelas cadeiras, em imaginar
quem é o paciente que vai sentar-se nelas, à espera da consulta? Que doença
ele tem? Para onde ele vai? O que fará depois da consulta?” Nenhum prazer. E
assim eu também: Nenhum! Entram e saem os clientes e elas, pobres cadeiras, estão
lá à espera de serem ocupadas. Pois bem, a minha é uma ocupação parecida. Ora
me ocupa este, ora aquele. Neste momento está me ocupando o senhor, e creia
que não sinto prazer algum com o trem que perdeu, com a família que espera o
espera na cidadezinha de ferias, com todas as reclamações que eu imagino que
tenha...
O FREGUÊS: Ai, tantas, nem calcula!
O HOMEM: Dê graças a Deus que não passam de reclamações.
(PAUSA) Existem coisas piores, meu amigo. Eu lhe digo
que tenho necessidade de me agarrar com a imaginação à vida alheia; mas assim,
sem prazer, sem me interessar de maneira alguma, muito pelo contrário... pelo contrário...
para sentir a irritação da vida, para julgá-la estúpida e inútil, tanto que
realmente não deve importar muito a ninguém perdê-la. (RAIVOSAMENTE) E isso é necessário que a gente perceba, sabe? Com
provas e exemplos contínuos, implacavelmente. Porque, meu caro senhor, não sabemos
de que é feito esse desejo de viver, mas existe, existe! Todos a sentimos aqui,
como uma angustia na garganta, o gosto da vida que nunca se satisfaz, que nunca
se pode satisfazer, porque a vida, no próprio ato de a vivermos, é tão gulosa
de si própria, que não se deixa saborear. O sabor está no passado, que
permanece vivo dentro de nós. É daí que nos vem o desejo de viver, das recordações
que nos mantém presos. Mas presos a que? A esta estupidez... a estas lamentações...
a tantas ilusões absurdas... a tantas amarguras que nos ocupam... Sim! Esta,
que foi uma estupidez!... Aquela, que foi uma lamentação... e posso até dizer:
essa que agora parece ser uma desventura, uma verdadeira desventura... daquí a
quatro, cinco, dez anos, quem sabe que gosto virão a ter...que gosto virão a
ter as próprias lágrimas de hoje?... E a vida, por Deus, só a ideia de a
perdermos... especialmente quando se sabe que é uma questão de dias...(NESTE MOMENTO
APARECE O VULTO DA MULHER VESTIDA DE PRETO, ESPREITANDO A ESQUINA.) Pronto... está vendo? Ali, ali, naquela esquina...Então
não vê um vulto de mulher? – Já se escondeu!
O FREGUÊS: Quem? Quem era?
O HOMEM: Não viu? Se escondeu.
O FREGUÊS: Uma mulher?
O HOMEM: Sim. Minha mulher.
O FREGUÊS: Ah! Sua esposa?
O HOMEM: (DEPOIS DE UMA PAUSA) Vigia-me de longe. E acredite, tenho vontade de ir
até ela e mandá-la embora a pontapés! Mas seria inútil... É como uma dessas
cadelas sem dono, teimosas, que quanto mais pontapés nós damos, mais grudam nos
nossos calcanhares. (PAUSA) O que aquela mulher está
sofrendo por mim, o senhor nem pode imaginar. Já não come, não dorme...
Segue-me dia e noite, assim, à distancia. Se pelo menos tentasse escovar
aquele cabelo... aqueles vestidos... – Já não parece uma mulher, mas um trapo velho. O cabelo empoeirado. E tem
apenas trinta e quatro anos! (PAUSA) Sinto uma raiva tão grande
que não imagina. Às vezes a pego nos ombros e grito na sua cara: – Estúpida, imbecil! – E sacudo-a. Aceita tudo. Fica
parada, olhando pra mim, com uns olhos.. .com uns olhos que, juro pra você,
fazem-me subir aos dedos um desejo selvagem de estrangulá-la. Mas nada. Espera
que me afaste, para recomeçar a me seguir de longe. (DE NOVO A MULHER
TORNA A ESPREITAR) Olha, olha, espreitou
outra vez aquela esquina!
O FREGUÊS: Pobre senhora!
O HOMEM: Que pobre senhora! Percebe o que ela
queria? Queria que eu ficasse em casa, muito calmo, muito quieto, descansando
no meio dos seus carinhos; admirando a ordem perfeita de todos os cômodos, da
beleza de todos os móveis, aquele silêncio de espelho que havia antes na minha
casa, medido pelo tique- taque do relógio de pendulo da sala de jantar. – Era
isso que ela queria! E eu pergunto a você, para lhe fazer compreender o absurdo...
Não! Que estou dizendo? “O absurdo?” – a macabra ferocidade dessa pretensão! Eu
pergunto se julga possível que as casas de Avezzano, as casas da Messina, se
tivessem tido conhecimento do terremoto que em breve as iriam derrubar, teriam
conseguido ficar muito sossegadas sob o luar, ordenadas em fileiras, ao longo
das ruas e das praças, obedecendo ao plano regulador da Comissão Organizadora
da Câmara Municipal. Casas, por Deus, de pedra e madeira, e também elas teriam
fugido! Imagine então os habitantes de Avezzano, os habitantes da Messina, a
despirem-se plácidos, para se deitarem, dobrando as roupas, pondo os sapatos
diante da porta, e enfiando-se depois debaixo dos cobertores, gozando a
brancura fresca dos lençóis bem lavados, com a consciência de que, dentro de
algumas horas, morreriam. Parece-lhe possível?
O FREGUÊS: Mas por acaso, a sua
esposa...
O HOMEM: Deixe-me falar! Se a morte, meu amigo,
fosse como um daqueles insetos esquisitos, repugnantes, que pousam em cima de nós,
sem percebermos... O senhor vai passando pela rua; outro pedestre, de repente o
faz parar, e com toda cautela, com os dedos estendidos, lhe diz: “Perdão amigo,
com licença. Vossa excelência tem a morte em cima de si!” E, com os tais dedos
estendidos, pega-lhe e atira com ela para longe... Então seria magnifico! Mas a
morte não é como um desses insetos repugnantes. Quantos daqueles que passeiam tranquilos
e sem preocupações, talvez a tragam em cima em si; ninguém a vê; e eles vão
tranquilamente planejando seu dia de amanhã e depois de amanhã. Ora, eu, meu
caro senhor... (LEVANTA-SE) Vem!... vem
mais pra cá... (CONDUZ O FREGUÊS PARA JUNTO DO CANDEEIRO ACESO)...Quero mostrar uma coisa...Olhe aqui, debaixo do
bigode... Aqui, está vendo? Não vê que linda tuberosidade violácea? Sabe como se
chama isso? Ah, um nome muito doce, mais doce que um rocambole: – Epitelioma, é assim que se chama. Pronuncie, verá
que doçura: Epitelioma... A morte, percebe? Passou por mim. Pôs esta flor na
boca, e disse: - “Fica com ela, querido: voltarei a passar por aqui dentro de
oito ou dez meses!” (PAUSA). E agora me diz, se com
essa flor na boca, eu podia ficar em casa tranquilo e sossegado, como desejava
aquela infeliz. Eu grito com ela: - Ah, então, você quer que eu te beije? –
Sim, me beija! – Mas sabe o que ela fez?: Com um alfinete, a semana passada,
fez um arranhão aqui no lábio superior, e depois agarrou minha cabeça e queria
me beijar... me beijar na boca... Porque diz que quer morrer comigo... (PAUSA) Está louca... (RAIVOSAMENTE) Em casa é que eu não fico! Preciso estar atrás das
vitrines das lojas, admirando a habilidade dos vendedores. Porque, o senhor
compreende, se por momentos sinto um vazio dentro de mim... compreende, posso
até matar, como se nada fosse, uma pessoa que nem sequer conheço... sacar uma
arma e matar um sujeito que, como o senhor, tenha apenas perdido o trem... (RINDO) Não, não se assuste, meu caro senhor, estou
brincando! (PAUSA) Eu vou embora (PAUSA) Eu me mataria primeiro (PAUSA) Mas existem, nesta altura do ano, certos damascos tão
bons... De que maneira costuma comê-los? Com a boca toda, não é? Abre-se pelo
meio; depois apertamos com os dedos até escorrer o sumo... como dois lábios
carnudos... Que delícia! (RI. PAUSA) Meus
respeitos à sua distinguida esposa e às suas filhas que estão de férias.
(PAUSA) Eu as imagino vestidas de branco ou de azul celeste, numa linda
ladeira, sob a sombra. (PAUSA) E talvez possa me fazer
um favor, amanhã de manhã, quando chegar. Imagino que a cidadezinha estará
perto da estação. – Ao romper do dia, poderá fazer o caminho a pé. – O primeiro
ramo de ervas que encontrar ao longo da estação, repare bem nele. Conte os fios
de erva por mim. Quantos fios contar, tantos serão os dias que ainda terei que
viver. Mas escolhe um bem grande, pelo amor de Deus! (RI.) Boa noite, meu caro senhor.
AFASTA-SE CANTAROLANDO, DE BOCA FECHADA. A ÁRIA QUE O BANDOLIM TOCA, AO
LONGE. MAS ANTES DE CHEGAR À ESQUINA DA DIREITA, LEMBRA-SE DE QUE A MULHER
ESTÁ LÁ À SUA ESPERA. ENTAO RECUA UNS PASSOS, ATRAVESSA A RUA E DOBRA A
ESQUINA DO OUTRO LADO, SEGUIDO PELO O OLHAR DO PACÍFICO FREGUÊS, QUASE
PETRIFICADO.)
FIM
Obrigada!!!
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